A ética exige o tratamento da dor
17/04/2014 Deixe um comentário
O tratamento da dor, ou ao menos a tentativa de a minorar, representam, na longa história (e pré-história) da medicina um dos dados adquiridos que ninguém põe em dúvida. Há imagens de Esculápio (ou Asclépio, na versão grega original) segurando na mão esquerda a serpente enrolada no bastão e, na mão direita, algumas cápsulas de dormideira ou Papaver somniferum, cujo sumo concreto, obtido por incisão, é o ópio. Repare-se: o símbolo da própria arte de curar fica assim preterido (na sinistra) em relação ao princípio vegetal capaz de tratar a dor (na dextra). Hipócrates, no século IV antes de Cristo não hesitou em atribuir às mãos dos médicos características divinas, mormente quando da sua acção resultasse o alívio da dor (“É divino sedar a dor”, proclamava). E o nosso Zacuto lusitano (nascido como Francisco Nunes em 1575) deixou inscrita, na listagem dos preceitos médicos, esta notável instrução: Medicus inter omnia symptomata, prius dolorem sedet (Entre todos os sintomas, dê o médico primazia ao alívio da dor).