A ética exige o tratamento da dor

Walter OsswaldO tratamento da dor, ou ao menos a tentativa de a minorar, representam, na longa história (e pré-história) da medicina um dos dados adquiridos que ninguém põe em dúvida. Há imagens de Esculápio (ou Asclépio, na versão grega original) segurando na mão esquerda a serpente enrolada no bastão e, na mão direita, algumas cápsulas de dormideira ou Papaver somniferum, cujo sumo concreto, obtido por incisão, é o ópio. Repare-se: o símbolo da própria arte de curar fica assim preterido (na sinistra) em relação ao princípio vegetal capaz de tratar a dor (na dextra). Hipócrates, no século IV antes de Cristo não hesitou em atribuir às mãos dos médicos características divinas, mormente quando da sua acção resultasse o alívio da dor (“É divino sedar a dor”, proclamava). E o nosso Zacuto lusitano (nascido como Francisco Nunes em 1575) deixou inscrita, na listagem dos preceitos médicos, esta notável instrução: Medicus inter omnia symptomata, prius dolorem sedet (Entre todos os sintomas, dê o médico primazia ao alívio da dor).

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|opinião| – Arroz de polvo

Paulo Geraldo - Prof. Literatura Portuguesa

Sucedeu-me uma vez comer arroz de polvo tendo sido eu a apanhar o polvo… e garanto que nunca semelhante prato me soube tão bem como nessa ocasião. Era, aparentemente, um polvo igual a todos os outros e foi cozinhado da mesma forma que os outros. Mas era diferente: tinha resultado de horas de esforço, de vários fracassos, de sucessivas buscas inglórias nos rochedos, de alguns arranhões…

E verifiquei que na minha vida de saltimbanco, de escola em escola, ano após ano, me custou mais abandonar aqueles lugares onde tinha sido possível dar mais do meu tempo e do meu esforço aos meus alunos e às tarefas que realizei.

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