“Precisamos de uma nova liderança política com nova visão”

O Bispo de Leiria-Fátima defendeu, na quarta-feira à noite, uma «nova liderança política, com nova visão», adiantando que é necessária uma «grande regeneração da sociedade». D. António Marto participou num encontro com mais de 120 autarcas e dirigentes associativos da vigararia de Colmeias, que se realizou na freguesia de Albergaria dos Doze (Pombal).

Defendendo que «são precisos novos líderes e uma nova geração de políticos», o Bispo referiu-se à corrupção como uma «espécie de cancro» que entrou na sociedade. Na opinião de D. António Marto, «o mundo está de pernas para o ar» pelo que «requer uma mudança de mentalidade», até porque «as injustiças sociais são escandalosas» dando como exemplo a diferença entre «os que ganham imenso e aqueles que ganham muito pouco».

Antes, o prelado considerou que «não há uma verdadeira qualidade de vida, sem uma vida espiritual de qualidade», e referiu que a Igreja, os autarcas e os dirigentes associativos têm «algo em comum: estar ao serviço das mesmas pessoas».

Ao referir-se aos princípios da Igreja, D. António Marto considerou que «a Igreja não tem por vocação a gestão da sociedade», tendo adiantado que «não está ligada a nenhum partido político». Por outro lado, considera que «o Estado é laico». Ou seja, «não tem religião porque tem de respeitar a religiosidade dos cidadãos», embora «não possa ignorar a religiosidade de uma grande maioria».

Considerando que «o mundo moderno está a ser muito desumano», o Bispo referiu que este «pode tornar-se num deserto espiritual» acrescentando que «a fé cristã é um factor de grande humanização» como a Igreja «é um factor de coesão social».

Questionado sobre a falta da disponibilidade de cidadãos para dirigir o associativismo, D. António Marto afirmou que «é mais fácil dar-se dinheiro para uma causa, do que disponibilizar-nos para essa causa». No seu entender, é necessário desenvolver um trabalho de formação, sobretudo «nas famílias e nas escolas». Contudo, adiantou que «as próprias associações também têm de ser criativas para suscitar o gosto de trabalhar para os outros».

Ao iniciar o encontro, o presidente da Junta de Freguesia de Vermoil, que interveio em nome dos autarcas da vigararia, referiu-se aos aspectos sociais, para os quais os autarcas «devem estar atentos» acrescentando que «não basta dar apenas bens materiais».

Na opinião de Ilídio Manuel da Mota, chegou a hora de ser implementado, nas freguesias, um Conselho Social, para «identificar casos e criar mecanismos para lhe fazer face».

O autarca considerou que se vive uma «crise de valores humanos» pelo que «é preciso fazer uma limpeza à classe política e às máquinas que a ela estão ligadas».

Já a representante dos dirigentes associativos, apelou ao Bispo para que transmitisse uma mensagem de esperança a quem se dedica às colectividades e instituições. No entender de Ana Travanca, dirigente da Liga dos Bombeiros da Secção de Espite (Ourém), «no voluntariado não bastam as boas vontades» e lamenta que «cada vez mais existem menos pessoas para ajudar o próximo», já que «as pessoas fecham-se nas suas vidas».

Depois do presidente da Junta de Freguesia de Albergaria dos Doze ter afirmado que «não é fácil ser-se autarca», Narciso Mota traçou um cenário negro sobre a situação. Para o presidente da Câmara de Pombal «tem-se feito muita politiquice e poucas políticas sérias» para além da legislação ser «abstracta, teórica e incompetente».

Considerando que «a justiça social no nosso país é preocupante, gritante e alarmante», Narciso Mota, defende uma «outra postura» por parte dos partidos políticos. «Temos de erradicar o laxismo e a mediocridade», disse.

“Leis também têm efeitos pedadógicos”

Desafiado pelo presidente da Assembleia Municipal de Pombal a falar sobre a despenalização do aborto, D. António Marto referiu que o aborto «tornou-se num flagelo social» pelo que «o grande combate tem de ser sobre as suas causas». Ou seja, «é preciso perceber que causas estão na base de uma mulher fazer um aborto e combatê-las».

Para o Bispo de Leiria-Fátima, «as leis também têm um efeito pedagógico», tendo acrescentado que «é preciso haver uma mudança de mentalidade». E «isso é um trabalho que tem de começar nas nossas famílias e nas comunidades cristãs».

Orlando Cardoso | Diário de Leiria | Diário de Coimbra

 

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